Quando o trânsito é caótico, a cidade é cinza e a bolsa está cheia de trabalho e contas para pagar, o Brasil revela outra paleta  de cores.

Dois retratos de um mesmo país

Há quem acorde antes do sol produzir o que comemos, vestimos, usamos. Há quem, no meio do trânsito lento, com a bolsa cheia de compromissos, documentos, instrumentos e prazos, desenha sua rotina com propósito, mesmo em meio ao caos urbano. E há quem enxergue o país apenas pelo filtro das férias — um cartão-postal perene, mergulhado em sol, mar e matizes tropicais. Nada de errado com isso. Esse contraste não é novidade; é o próprio enredo da nossa história: um Brasil que trabalha, exporta habilidade  e trabalho, e um Brasil que muitos imaginam sempre colorido demais para aceitar o cinza , o marrom, a rotina, o dever o difícil.

O estopim: Mondepars e a “brasilidade” na berlinda

Quando a Mondepars subiu ao palco do Theatro Municipal com uma coleção invernal pontuada por lãs frias, cortes retos e quase nenhuma estampa, não faltou quem reclamasse da “ausência de Brasil”. Mas a crítica revelou mais sobre o público do que sobre o desfile: nosso país é plural demais para caber num único estereótipo. A alfaiataria sóbria de Sasha Meneghel recordou que também somos metrópole, concreto, madrugada produtiva — e que elegância pode, sim, nascer em solo tropical sem recorrer a folhas de bananeira.

Ecos da caneta de Tay Dantas
Tay Dantas costuma lembrar, em seus textos enxutos e afiados, que “marcas ricas não temem ser quem são” — pois autenticidade, não truque, é o que gera valor. A lição serve tanto para grifes quanto para nações: assumir nossa multiplicidade vale mais do que vestir fantasias tropicais cada vez que  nos observam. Essa é uma lição que o mercado de moda já deveria ter aprendido.

Lapin Unique: onde o clássico é escolha, e a escolha é resistência

Na Lapin Unique, o couro não é apenas matéria-prima — é testemunha do tempo. Cada peça, cada costura feita artesanalmente, cada compartimento pensado para acolher o essencial, carrega a memória de uma tradição que não cede à pressa e a modismos. Escolher o clássico não é apegar-se ao passado: é resistir ao efêmero, a"modinha" com bom gosto e propósito. Porque há uma beleza serena em permanecer fiel ao que é bem feito — sobretudo num país que vive em constante encontrar e na tentativa de se reinventar.

Para além do preto-e-branco

Se o luxo é ter tempo, a organização é não disperdiçá-lo — é sua guardiã. E o Brasil, mais do que sol ou gravata, é liberdade para escolher o tom: ora areia quente, ora lã fria. Nosso desafio como profissionais da moda é costurar esses extremos num tecido íntegro, que resiste ao tempo e onde quem produz seja tão celebrado quanto quem exibe.

Que este blog se abra, então, como um alfaiate de ideias: alinhavando pontes entre a mão que trabalha e o olhar que sonha, entre a cor que grita e o corte que resiste, entre o Brasil que borda e o Brasil que brilha.

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Beijos

Marcia Coelho

Co-Fundadora Lapin Unique

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